terça-feira, 19 de abril de 2011

Esper, um conto estranho...

Em mais uma tarde quente e seca de verão que se findava, lá estava Esper um sujeito simpático, às vezes, mas um sujeito legal. Encontrava-se em mais um dia daqueles, em que não se tem “saco” para fazer nada ou até mesmo pra pensar, sabe aqueles dias em que até ver folhinha de mulher gostosa nua parece sem graça, o quê pra Esper era algo nunca imaginável.
Esper vivia cercado de muitos iguais a ele na colônia, mas estava sempre só, fechado em seu mundo, sempre buscando algo que não conseguia explicar o que era e nem o porquê da busca incansável. Sabia que estava predestinado a uma missão que não compreendia muito bem o que era, mas sabia que teria que estar preparado para fazê-la no dia em que chegasse a hora, mesmo sendo o melhor nadador da colônia ainda sentia um friozinho na barriga com medo de não conseguir nadar rápido o bastante, não sabia o porquê e nem pra onde nadar, mas sabia que tinha que nadar o mais rápido possível. Sentia-se como se fizesse parte de metade de algo muito maior e sublime.
Não entendia muito bem como as coisas aconteciam ali no seu mundo, via sempre gente saindo e chegando como se estivesse numa linha de produção, como se ele próprio fosse um dos produtos, não sabia de onde vinham ou para onde iam, mas o fluxo era frequente, quase frenético. Sempre pensava que a ida era algo espetacular, pois, sempre ocorriam coisas mágicas antes e durante a saída de seus amigos, era algo fascinante e que o deixava muito excitado. Queria sair, mas nunca fora escolhido, o que o deixava muito triste porque sempre via alguns dos seus morrendo sem mesmo terem a oportunidade de sair de lá e não queria este fim pra si.
Tentara sair mesmo sem ter sido escolhido, mas por um descuido, um instante de distração fora barrado antes mesmo de alcançar o túnel sagrado. Ah, o túnel sagrado, não era simplesmente um túnel, pra ele era o lugar mais bonito do mundo, significava a liberdade, significava a oportunidade de outra vida, e isso o fascinava mesmo sem saber o que lhe esperava lá do outro lado.
A noite chegara ainda quente e seca, mas algo estava diferente, algo parecera mudar na vida de Esper, sentia que alguma coisa estava pra acontecer, ainda não sabia o que, mas estava certo que algo ia acontecer. A colônia estava diferente, de um jeito que nunca vira antes. Teria chegado finalmente a sua vez? Seria o dia “D”? A hora “H”? Esper sentia-se diferente, seu estado de espírito mudara de repente, estava mais animado agora do que estivera o dia todo. Estava experimentando um sentimento que lhe afirmava que sua vez estava pra ocorrer a poucos instantes, sentia-se excitado e eufórico. E, em meio a este turbilhão de sentimentos, se viu a caminho do túnel sagrado. Chegara a sua vez. Estava radiante, sentia-se preparado para este momento que aguardou por toda a sua existência. Percorreu todo o túnel sagrado na maior velocidade que seu nado conseguia, seu corpo e sua mente estavam preparados para este glorioso momento.
Algumas histórias dizem que Esper nadou com todas as suas forças e encontrou um novo mundo no qual ele mergulhou de cabeça, outras, que o mundo do qual encontrara o engoliu instantaneamente. Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas o que posso dizer e que ele, o escolhido, sabia que realmente estava predestinado a algo maior, algo que multiplicaria a sua existência em milhões de vezes mais...